10.3.07
Interlúdio Futebolístico
Nos tempos que correm, apesar da omnipresença dos meios informáticos, as pessoas continuam a ser imprescindíveis.
Uma noite destas, passei várias horas em pesquisas persistentes na Internet, à procura da confirmação de uns dados futebolísticos imprecisamente gravados na minha memória.
Tratava-se de obter a confirmação de um resultado ocorrido aí pelo meio da década de 60, do século passado, deveras humilhante para o Benfica, na Luz, então autêntica Catedral, imposto pelo seu velho rival de Lisboa, o Sporting Clube de Portugal.
Recorri ainda a vários amigos, sportinguistas de antiga convicção, mas também eles não me tiraram desta dúvida, diria, à guisa de Mestre Camilo, quase excruciante.
Assim fiquei, algo ruminante, até que, numa das minhas excursões internéticas, dei com um apontamento de um dos confrades da Aspirina B, José do Carmo Francisco, que conhecia de nome, pelas crónicas saborosas que dele leio, com regularidade, na Gazeta das Caldas. Nalgumas, já ele havia revelado a sua condição de Sportinguista conhecedor.
Ainda algo duvidoso sobre se seria a mesma pessoa, lá lhe deixei um pedido de esclarecimento sobre esse mítico encontro de futebol, ocorrido no Estádio da Luz, em que o meu, então mesmo glorioso, Benfica contra o seu arqui-rival de Lisboa, havia sofrido ali, na sua vera casa, uma humilhante derrota de 4 a qualquer coisa, naqueles tempos áureos de José Augusto, Eusébio, Torres, Coluna e Simões. Vejam bem : que estupenda linha de ataque, meus caros.
E de lá veio, pronta e exacta, a resposta : jogo realizado na Luz, a 17 de Outubro de 1965, em que o Benfica tinha sido derrotado pelo Sporting por 4-2, sendo que os 4 golos dos «leões» haviam sido apontados pelo mesmo jogador, o ponta-de-lança João Lourenço, que terá atingido aí o zénite da sua carreira de futebolista. Não guardo dele, depois deste jogo, outros factos relevantes da sua história de goleador.
Mais me informou J.C. Francisco que, na baliza do Benfica, esteve o guarda-redes Melo, que também não terá aquecido o lugar, por via deste resultado. Nessa época de 1965-66, o Sporting sagrar-se-ia Campeão Nacional, talvez estimulado com esse feito memorável.
O mesmo efeito já não alcançaria o Sporting com a sua mais célebre vitória dos tempos modernos, quando, em 1986 ou 87, venceu, dessa vez em Alvalade, por 7-1, o Benfica, então treinado, salvo erro, por John Mortimore, que, não obstante, haveria nesse ano de sair-se Campeão, depois de ter conseguido recuperar psicologicamente os jogadores que dali haviam saído animicamente arrasados.
Também não consegui, na Internet, confirmar a data deste último jogo, embora a RTP, de vez em quando, passe imagens dele, para gáudio de «leões» e amargura de «águias».
Evoquei aqui nesta tribuna, contra o que é meu hábito, estes factos futebolísticos, já sem a paixão com que os sofri, sobretudo o de 1965, quando ainda era tenro adolescente e vibrava com aquela equipa maravilha, que, por mais de um decénio, deu alegrias sem igual a milhões de Portugueses espalhados pelo mundo, num tempo para eles avaro em motivos de animação e orgulho, desportivos e outros.
Convém lembrar que, até às magníficas vitórias europeias do Benfica dos anos 60, quase só o Hóquei em Patins nos tirava a barriga de misérias, em matéria de orgulho nacional, com alguma ajuda do Fado da Amália e do Carlos do Carmo e, claro, d’Os Lusíadas, do nosso imortal Luís de Camões, porque o Fernando Pessoa, esse, ainda dormia o seu sono profundo de ilustre desconhecido, de que só seria resgatado em 1985, cinquenta anos após a sua morte desapercebida : malhas que o Império tece…
AV_Lisboa, 10 de Março de 2007